sábado, 7 de março de 2009

Era na certeza do amanhecer que eu adormecia todas as noites. E cada uma mais difícil que a outra. Porém, nunca desisti; enfrentei meus piores pesadelos, ciente da necessidade de corrigir minhas faltas. Fácil é reconhecer os erros, difícil é pagar por eles. E eu os paguei, um a um. Mais com sangue que com suor. Arrependido? Não!!! Acho que não. Simplesmente, culpado.

 

Capítulo 0

Das apresentações

Antes de mais nada, preciso me apresentar para prestar alguns esclarecimentos. Meu nome é Francisco, e como muitos outros franciscos não tive condições dignas de vida; mal completei a oitava série. Por esse motivo, peço a compreensão de todos, porque se essa história virou um livro, ainda assim, não mereço os créditos de escritor: sou um simples ajuntador de causos.

 

Capítulo 1

Apesar de esta história ter acontecido no decorrer de quase uma década, a minha, em contrapartida, é pequena e pobre de sentido. Sou gari; trabalho como gari há treze anos. Fui-me acostumando com o lixo e com a rua, que escrever essa história não pareceu nenhum sacrifício. Mas, não quero falar disso ainda. Quero falar um pouco mais de mim…


PS.: Decidi não dar título ao capítulo 1, visto da falta de higiene que este se me apresenta...


 Dois

Talvez o meu maior pecado tenha sido o excesso de virtudes. Não nego meus predicados. Não caberia, porém, colocá-los à prova. Até por que estou na maior de minhas provações. Estou preso, e nada mais importa. Sou apenas um sujeito…

 

Capítulo 2

Uma história sem encanto

Essa estória não tem o encanto do “era uma vez”, não carrega com ela o deslumbramento da fantasia; é uma estória manchada pelo orgulho e ganância do homem. Naquele dia, não mais de duas da tarde, larguei o trabalho e me dirigi para casa. Sempre fui muito dado à leitura, apesar de meu pouco estudo, e isso aguçou minha curiosidade. Gostava de saber de tudo. No mundo da informatização, preferia informação. Lia os jornais velhos que eu recolhia em meio ao lixo; revistas antigas; pedaços de livros, até mesmo cadernos e agendas. Lia de tudo. Por isso, agora escrevo; porque acredito que exista outro alguém como eu e que me está lendo agora. A você, meus parabéns e meu muito obrigado.

 

Capítulo 3

A maleta misteriosa

No capítulo anterior, pus-me a falar sobre aquele dia. Juntei meus trecos para ir-me embora. Ao perder-me, antes, falando do meu gosto pela leitura, imagino ter comentado como esta enriqueceu minha curiosidade. Na verdade, fui eu quem matou o gato. Já a caminho da parada de ônibus, deparei-me com aquela maleta encostada em um pé de árvore, mal coberta por folhas e gravetos. Senti-me o próprio Epimeteu. Era uma tarde ensolarada, mas havia poucas pessoas nas ruas e ninguém parecia importar-se com aquela árvore, muito menos com o que ela escondia. Eu, porém, fiquei tão incomodado com a ousadia daquela maleta, que teimava em atiçar a minha curiosidade. Ela representava a mim o desconhecido e poderia ser detentora de milhões em dinheiro. Quantas vezes já não lera sobre pessoas que haviam encontrado dinheiro em maletas misteriosas. Pensei em levá-la à polícia, mas então não conheceria o seu conteúdo. Levei para minha residência.

 

Três

Minhas cartas não são de despedida. Elas reafirmam a inconstância dos meus sentimentos. Preso nessa jaula, não posso sentir a dor da liberdade e muito menos o sofrimento da vida. Por esta, eu apenas passei; e, por mim, passou a morte, rondou-me e acabou por estacionar nas esquinas das minhas dúvidas.

 

Capítulo 4

Um novo esclarecimento

Desculpem-me os que me lêem hoje, mas prefiro não falar ainda sobre o conteúdo da maleta misteriosa. Preciso ainda concluir alguns esclarecimentos necessários para se tentar entender essa história. Vocês já me conhecem pelo nome e já foram apresentados ao meu ofício. Não sabem, entretanto, que minha filhinha de cinco anos estava morrendo de leucemia; o tratamento era caro demais para o orçamento do meu lar. Pobre lar, que ficou ainda mais pobre com a notícia de que minha esposa perdera o emprego. Devido à doença de minha querida Joaninha, assim chamada carinhosamente, minha esposa Julia dedicara mais tempo à casa que ao próprio emprego. Conclusão: [in]justa causa…